terça-feira, 17 de setembro de 2013

era uma vez...

Vanessa era uma garota cuja imaginação não tinha limites.
Sempre via um sentido oculto em cada coisa cotidiana, por mais singela ou banal que fosse.
Sempre acreditou que havia algo escondido nas entrelinhas da vida, e que estava apenas esperando por ser desvendado.
Assim, ela agia como se fosse uma detetive, sempre atrás de pistas que revelassem o real sentido das coisas.
Para ela, tudo na vida tinha um significado mais profundo. Para ela, se a realidade não se apresentasse como ela queria - como via em sua imaginação - era porque na verdade faltou coragem da vida, da pessoa, do mundo, para mostrar o que de fato ela enxergava. E ela sempre via algo mais.
Se uma borboleta cruzasse o seu caminho, logo via naquilo um sinal de que algo bom estava para acontecer. Então, ela esperava por esse algo... 
Se alguém a ignorava por qualquer motivo, ela nunca imaginava que a pessoa não quisesse falar com ela. Não, isso nem sequer passava pela sua cabeça. Mas ela pensava que a pessoa não a estava ignorando, mas somente estava com medo de se aproximar.
Vanessa acreditou durante muitos anos ser uma pessoa especial.
Ela sempre pensou ser alguém digno de toda atenção do mundo, e se o mundo não a reconhecia, ela logo pensava: - Deve ser porque está ocupado. Logo logo vai prestar atenção em mim como eu mereço.
E assim Vanessa viveu sua vida por longos anos.
Milhões de borboletas cruzaram seus caminhos, mas ela não teve milhões de coisas boas para contar após cada um desses acontecimentos.
Milhares de pessoas a ignoraram, mas ela não perdeu a disposição de esperar que elas tomassem coragem para se aproximar dela. Muitas vezes, ela até tomou a iniciativa, pois pensava - assim, - ajudar o outro a fazer aquilo que tinha vontade.
Vanessa nunca se desmotivou, por mais óbvia que fosse a situação ao olho de qualquer um, ela sempre preferiu iludir-se com a sua própria imaginação.
Doía demais imaginar que pessoas a ignoravam porque não queriam partilhar de sua presença. Doía pensar que borboletas voam e cruzam o caminho de qualquer pessoa, porque é isso que borboletas fazem: voam e cruzam caminhos.
Para Vanessa, o mundo em preto e branco, na objetividade da realidade era extremamente assustador e sem graça, porque esse mundo real preto e branco jamais a compreenderia. O mundo real não via quão especial ela era.
Um belo dia, Vanessa teve seu coração partido pelo primeira vez. Doeu tanto que ela achou que fosse morrer. Então logo olhou a situação pela lente de sua imaginação, e sentiu-se feliz. Porque significava que a pessoa iria voltar para ela. Mas isso nunca aconteceu.
Vanessa teve seu coração partido pela segunda vez, e esse também nunca voltou.
Terceira vez.. quarta vez...
Vanessa começou a, finalmente, ligar os pontos. 
Ao observar uma borboleta voando dentro do mercado em que aguardava na fila para passar no caixa pensou:
- Como eu sou idiota! 
E a realidade a atingiu de uma maneira como ela jamais havia sentido.
De repente, o chão foi roubado de sob seus pés, e a monocromia da realidade a devastou por inteiro.
- É só uma estúpida borboleta.
E a partir daquele momento, ela matou sua imaginação. Vanessa abriu mão das cores, não suportou a dor em seu coração e se deixou dominar.
Agora quando ela olha um homem, ela não vê mais o seu príncipe encantado, ou homem da sua vida. Ela vê apenas mais um ser humano do sexo oposto.
Para Vanessa, agora flores são apenas flores, borboletas apenas borboletas, e a vida é apenas um fardo pesado de se carregar.

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