terça-feira, 27 de novembro de 2012

diálogo do gato



O gato veio falar comigo
Não com palavras, como nós humanos fazemos
Ele veio daquele jeito de gato... ronronando, arranhando, esfregando
nas pernas e pés, olhando com olho apertado falando

O gato veio falando comigo
Não com ideias, como nós humanos teimamos
Ele veio acariciando, gemendo, tocando, lambendo...
Veio mordendo, unhando, sentindo e pisando

O gato me disse coisas muito importantes
Não todas sérias, como nós humanos queremos
Ele veio ensinando, rondando, pedindo, exigindo carinho
Veio miando, chorando, chiando baixinho

O gato me deu presentes inesperados
Não custando caro, como nós humanos prezamos
Veio de mansinho, de tarde, de noite, de dia
Chegando, entrando, esgueirando, sorrindo

O gato pediu uma coisa em troca
Não condicionando, como nós humanos sentimos
Veio delicado, olhando, esperando, deitando
Jogando com o corpo, com o andar, com orelhas virando

O gato despediu-se como quem não vai embora
Não com adeus, como nós humanos choramos
Mas de mansinho, elegante, trotante, só indo
Balançando o rabo, pata ante pata, simplesmente se exibindo

something



Eu quero alguma coisa que me faça ser
Eu quero alguma coisa que me faça ver
Eu quero alguma coisa que me faça crer
Apenas uma coisa que me faça querer viver

Eu quero alguma coisa que me faça ter
Eu quero alguma coisa para oferecer
Eu quero alguma coisa que permita crescer
Apenas uma coisa que me faça entender

Eu quero tudo o que me faça feliz
Eu quero tudo o que me faça sentir
Eu quero aquilo que não faça ferir
Eu quero tudo o que me faça sorrir
Eu quero tudo o que me faça pular
Eu quero tudo que me tire do ar,

Alguma coisa que me faça acordar...
Alguma coisa que me faça respirar...
Alguma coisa que me faça sonhar
Alguma coisa que me faça sair do ar

Alguma coisa que me traga amor
Alguma coisa que elimine a dor
Algo que haja no meu interior
Alguma coisa que devolva a cor
Alguma coisa que dê o sabor
Algo além de mero expectador

Eu quero alguma coisa que me faça ter
A alegria que só a vida pode oferecer


Eu quero tudo o que me faça feliz
Eu quero tudo o que me faça sentir
Mas quero tudo que me faça sentir sem ferir...
Eu quero tudo o que me faça sorrir
Eu quero tudo o que me faça pular e não dormir
Eu quero tudo que me tire do ar,
Me faça acordar...
Me faça respirar...

... daí então eu percebi que estava na chuva, mas fugindo dela. 

Não havia propósito naquilo, especialmente porque a chuva me fazia tão bem.
Então decidi parar de correr, e simplesmente me deixar ficar ali parada, na chuva.

E é muito melhor quando é a chuva quem borra toda a sua maquiagem...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

terça-feira, 20 de novembro de 2012

reencontro


Acabo de vir de um encontro fantástico.
Encontrei-me com aquela menina alegre e sorridente que é capaz de iluminar o dia mais nublado com seu sorriso maroto.
Aquela menina que leva a vida numa boa, que sabe que é capaz.
A menina que sabe que a vida é muito mais do que uma mentira, ou do que um simples momento, e portanto não deve ser levada tão à ferro e à fogo, como eu faço sempre.

Ah meu Deus, como é bom encontrar essa menina!

Essa menina me faz sorrir sempre de um jeito que ninguém mais consegue.
Só ela entende a minha amargura, e não me condena.
Ela nem consegue ficar triste por mim, porque no fundo ela acredita que eu vou vencer tudo isso um dia.
Como é bom sempre que encontro essa menina...
Já fazia tanto tempo que eu não a via que pensei que tinha ido embora, ou esquecido de mim, ou que  tinha me abandonado por não aguentar tanto rancor que carrego todos os dias.

A mulher que me tornei não deixa espaço para essa menina.



Mas essa menina perdoa. Mais que isso, essa menina se entrega: ao amor, às pessoas, à vida.
Essa menina me entende, e ela menina me ama também.
Foi tão rápido nosso encontro, e é sempre assim.
Ela vem, me ilumina com um sorriso, e no seu olhar eu posso ler tudo o que preciso para compreender quem eu não sou.
Apenas com um olhar ela me transforma por completo, nem que seja por apenas alguns instantes.
E então ela vai embora... Como sempre...

Essa menina sempre vai embora.


Dessa vez eu não sabia se ria por estar com ela, ou se chorava por saber que ela já estava indo embora.
Eu sempre tenho dessas indecisões: aproveito o momento ou lamento o seu fim?
Que saudade eu tenho dessa menina...
Ela, que as amarguras da vida tiraram de mim.
Ela que me fez vencer tantos desafios.
Ela que um dia foi embora sem se despedir...
Ou fui eu quem partiu? Fui eu quem disse adeus?
Ou fui em quem mudei? E ela precisou se mudar de mim?


A boa notícia é que ela ainda existe. E continua linda como sempre, poderosa como sempre, alegre como sempre e confiante como sempre.

A boa notícia é que essa menina ainda acredita em mim, mesmo quando eu não acreditava mais nela...
A boa notícia é que essa menina ainda vive em mim. 
Em algum lugar onde eu não me lembro mais é a casa dela. 

Eu só preciso encontrar o caminho de volta.

indecisão

Eu ainda não sei se gosto mais do barulho da chuva quando estou alegre ou quando estou triste.

sábado, 17 de novembro de 2012

contra mão

Às vezes a dor é tanta que chega a dar vontade de rir...

motivo # 1

E eu me sinto tão sozinha por  causa disso...

parvitati

Eu sou aquele tipo de pessoa idiota que dá significado ao que é insignificante.
Eu guardo entradas de cinema dos filmes que assisti.
Eu guardo os tickets de avião.
Eu guardo os embrulhos de presentes que recebi.
Eu guardo embalagens...
Tenho um tesouro de coisas insignificantes.
Eu não guardo só retratos e memórias...
Eu guardo essas pequenas e insignificantes coisas como se fossem valiosas.
E o mais triste é que de repente eu me dei conta de que elas possam, realmente, ser valiosas para mim.

O que é valioso para mim significa nada para o resto do mundo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ready made

Tudo bem, eu admito.
Não sou uma pessoa fácil.

Sou tão complexa que muitas vezes nem eu mesma me compreendo.
Como esperar que outra pessoa o faça?

Assim como uma obra prima, eu não sou para qualquer um.

engano # 1

"... o que eu mais queria
era provar pra todo mundo que eu não precisava
provar nada pra ninguém..."
(Renato Russo e cia)

Sinceramente eu não sei o que acontece comigo.
Eu sei muito bem que quando alguém tem a necessidade de reafirmar-se é porque é tão insegura, e pensa exatamente ao contrário daquilo que está falando que afirma sua insegurança nas palavras amarguradas, encharcadas de medo.

Eu sei disso.
E é exatamente isso que faço muitas vezes.
Sinto o amargo de algumas palavras minhas, encharcadas de medo...
Talvez eu esteja apenas tentando me convencer de que seria tão melhor pra mim se aquilo que digo naquele momento fosse verdade...
Talvez eu esteja apenas tentando me convencer de que eu preciso acreditar naquilo que eu digo.

Eu preciso começar a acreditar naquilo que eu digo.

Caso contrário, vou viver a vida e não passar de uma mentirosa hipócrita.
Seria isso uma redundância? "Mentirosa hipócrita"?

A questão é que doeu tanto e fez tanto sentido essa frase da música do Legião Urbana... 
E é tão frustrante esse sentimento pra mim... 
Mas é exatamente o que eu queria agora... 
Provar pra todo mundo que eu não preciso provar nada pra ninguém.

A quem estou querendo enganar?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

quando tento ser "normal"

Sou aquele tipo de pessoa desinteressante que, na ausência total de atrativos, pode interessar a alguém.

decisão


A pia na cozinha estava repleta de louças sujas. A sala estava uma completa bagunça. Nos quartos o caos instaurava-se eficientemente.

Ela estava na cozinha procurando por onde começar a organizar toda aquela bagunça. De repente, em um lampejo de bom humor, ela lembrou-se de quem realmente era. Foi apenas por um segundo, mas o suficiente para que ela pudesse formular uma saída para sua própria desordem existencial. Então disse a si mesma, como que em piada:

- Você precisa parar com isso, e rápido! Caso contrário, vai morrer muito cedo. E ainda por cima vai morrer sozinha. O que é pior? Morrer jovem ou morrer jovem... e sozinha?

Largou o lixo que segurava enquanto este pensamento cortava sua mente. E naquele instante amargou ser quem era e decidiu que iria mudar.

domingo, 11 de novembro de 2012

meio termo

Equilíbrio é algo que eu desconheço...


sou tudo ou nada
8 ou 80
água ou vinho
sim ou não


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

embriaguez


Quero uma vida sóbria...
Não quero mais estar sempre embriagada por tudo aquilo que sinto.
Não sei se minto
Ou se apenas exagero...
Mas quero essa vida sem turbulências
Quero agora calmaria.
Eu mereço um pouco de paz.
Já vivi tanta tempestade,
Tanta guerra, tantas baixas...
Tanta ausência de mim mesma
Já vivi tanta demência
Tanta dúvida
Tanta incerteza...
Agora quero tudo aquilo que mereço
Quero tudo e quero em dobro
Quero a brisa suave
Quero o pôr do sol
Quero o canto dos pássaros
Quero uma vida em paz comigo mesma


sábado, 3 de novembro de 2012

faxina # 1

É tão fácil mexer nas bagunças das outras pessoas e apontar o que deve ser jogado fora, as inutilidades todas que aquela pessoa mantém, e nos perguntamos para quê essa pessoa guarda tanta porcaria?
Mas quando alguém aponta as nossas inutilidades, rapidamente nós nos agarramos a elas e justificamos todas as porcarias que guardamos, muitas vezes às 7 chaves.

mistério

Quisera eu saber quem é você que sempre lê o que eu escrevo, e que está aí tão longe, do outro lado do mundo, nesse frio que faz aí agora...
Por que você não fala comigo?
Por que você fica em silêncio?
Mas eu posso sentir a sua respiração agora enquanto sabe que é de você que eu estou falando.

repentinamente

De repente minhas próprias palavras me trouxeram algum alívio e me fizeram sorrir.
Foi então que eu entendi porque é que eu escrevo.
Se ninguém mais me lê, eu leio...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

incertezas # 1


Tudo o que é incerto me apavora, me amortece, me adormece, me entorpece
Tudo o que é incerto me devora, me incomoda, me incorpora, me controla
Tudo o que é incerto me intimida, me desmonta, me amedronta, me afronta
Tudo o que é incerto no agora, me desarma, me encara, me adora
Tudo o que é incerto me desfaz, desmorona, me desmonta, se escora
Tudo o que é incerto me destrói, me congela, na demora, me espera
Tudo o que é incerto me domina, me derruba, me expulsa, me encapuça
Tudo o que é incerto me amordaça, me transporta, me exorta, me ameaça
Tudo o que é incerto me corrói, me derrama, me alcança, me engana
Tudo o que é incerto me abandona, me esquece, se despede, vai embora...

possibilidades

Como é possível sentir saudade de uma ilusão?

Às vezes sinto falta daquilo que eu sabia ser uma mentira, mas era uma mentira tão aconchegante, que me trazia segurança.

Como pode uma inverdade trazer segurança? Só para um ser muito iludido...

E de repente bateu uma saudade... De quando tudo era tão certo, tudo era tão quieto e calmo... Saudade de quando tudo era tão ilusório e eu não sabia.
Sinto saudade de não saber.


Are you serious?

Eu nunca soube como ser descontraída.
Eu sempre levei a vida e todo mundo e tudo muito a sério.

E tem sempre aqueles dias em que parece impossível algo me fazer sorrir.
Mas é sempre tão fácil me fazer chorar...