quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

moment

Sometimes I feel really comfortable in my thoughts.
All the other times I have to run from them, but they always catch me up.

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

retalhos # 1 - o nome

Desde que eu me conheço por gente eu gosto de ler, mesmo quando ainda não sabia ler.
Eu assistia às pessoas ao meu redor lendo e achava aquilo lindo, queria tanto pra mim. Não via a hora de aprender a ler. Tanto que aos 5 anos meu vizinho me deu uma cartilha.

Cartilhas eram livros de alfabetização usados num passado distante.
O vizinho me deu porque não tínhamos dinheiro para comprar.
Tive uma infância muito pobre.
Tão pobre que eu me lembro que quando chegava a temporada de chuva - não que no Brasil tenha uma estação de chuva, mas geralmente chove quando vai mudar da primavera para o verão, ou do outono para o inverno, enfim - a nossa casa ficava alagada, tantas eram as goteiras que tinha.
Minha avó morava na casa de baixo. No Brasil é comum esse tipo de construção, assim como - imagino eu - em muitos países pobres. Minha avó construiu sua casa, e com os anos, os filhos foram construindo ao redor no mesmo quintal, ou verticalmente.
Quando a chuva parava demorava vários dias para que parasse de chover dentro de casa.
Tínhamos falta de muitas coisas, mas duas delas nunca nos faltaram.
Nunca nos faltou o que comer, ainda que por muitas vezes teríamos de dividir um ovo para 3 ou 4 pessoas, ou dividir um pãozinho francês para 3, ou que só tivesse arroz e um caldinho de feijão. Mas graças a Deus, nunca passamos fome.
E também nunca nos faltou amor.
Crescemos privados de tudo: tênis para fazer aulas de educação física, livros para a escola, presentes no Natal, roupas novas. Mas amor nunca nos faltou. E eu sempre soube, mesmo naquela época, que amor era algo mais importante que um tênis ou uma roupa nova. Porque amor, eu sempre soube, o dinheiro não pode comprar.
Quando tínhamos um pouco mais de dinheiro meus pais não faziam questão, e nos compravam presentes e roupas.
Mas na maioria dos casos não tínhamos nem o suficiente para pagar as contas e comprar comida até o final do mês.
Mas amor... Ah! Esse sempre esteve presente.
Minha mãe, nos erros e acertos, sempre nos deu amor de sobra. E com isso crescemos nos amando.
Aprendi desde sempre a amar outras pessoas.
Mas minha mãe sempre teve um problema sério. Ela nunca se amou de verdade.
Então eu cresci sabendo amar aos outros, mas não aprendi a me amar.
Me odiei a maior parte da minha vida. Na verdade eu nem me lembro de quando foi que comecei a me odiar, tanto tempo já faz.

Mas como eu disse no começo, eu sempre gostei de ler.
Quando eu ainda estava aprendendo, minha mãe lia pra mim. Lembro que ela juntou por vários meses um dinheiro para me comprar um único livro de uma enciclopédia sobre o universo, porque ela sabia que eu era apaixonada pelas estrelas. A ideia original era comprar a enciclopédia toda, mas o dinheiro só deu para o livro que falava sobre as estrelas. E eu amei aquele livro.

Quando estava na 2a. série eu ganhei um prêmio por um texto que escrevi, onde eu contava meu desejo e sonho de ser uma astronauta um dia.
Ganhei um certificado rosa, que dizia que eu tinha tirado o primeiro lugar, e um brinquedo.
Hoje mesmo estava me lembrando desse certificado, e de como ele foi dissolvido em uma das "enchentes" na nossa casa. Recolhi seus pedaços como quem recolhe seu coração partido. E não tinha o que fazer a não ser jogar no lixo.

Quando eu finalmente aprendi a ler, minha mãe conseguiu emprestado um livro chamado "O caso da borboleta Atíria", da maravilhosa Coleção Vaga-lume. 
Imagem relacionadaNesse livro tinha uma borboleta chamada Vanessa. Não era um personagem importante ou fundamental, mas era uma borboleta que tinha o meu nome, num livro!
Livros para mim eram mágicos, e pensar que meu nome estava numa estória num livro era algo fenomenal para uma Vanessa de 6 anos de idade.
Foi ali que aprendi o significado do meu nome.
Lembro da minha mãe dizendo:
"- Você sabia que seu nome significa borboleta? E tem uma borboleta nesse livro aqui que tem o seu nome."
Ela não precisou dizer mais nada, eu já estava fascinada por aquele livro e queria conhecer a tal borboleta Vanessa.
Pensando nisso agora, percebo que desde cedo eu aprendi que as coisas tem um significado. E por imaginar que meu nome significava borboleta, eu aprendi a amar o meu nome.
Eu sempre amei o meu nome.
Eu não conseguia me amar, mas eu amava o meu nome.
E quando criança, não importava que eu não tinha um tênis e por isso tinha que ficar de fora das aulas de educação física. Não me importava que o tênis que me arrumaram tinha um furo e as outras crianças faziam piada de mim. Não me importava que quando chegasse em casa num dia de chuva a gente ia ter que mover as camas para a cozinha porque era o único lugar onde não tinha goteira. E por mais que eu tivesse vontades, não me importava que só tinha arroz com caldo de feijão para comer no jantar. Tudo isso era pequeno diante do amor que havia em casa, e porque o meu nome significava borboleta.
O tempo passou, e alguém ficou grávida e comprou um desses livros de nomes. E eu fui ver o meu nome no livro. E lá dizia que Vanessa era um nome que significava "linda borboleta".
E naquele momento eu aprendi que as coisas não só tem um significado como também muitas vezes o significado delas é mais profundo.
Eu estava entrando na adolescência e nada podia me segurar, porque meu nome significava "linda borboleta".
Aprendi a amar borboletas por causa do meu nome.

Estudando ciências e aprendendo sobre mutações, aprendi que as borboletas são lagartas antes de serem borboletas.
E lagartas são nojentas, ninguém quer uma por perto. Eu não queria uma por perto, tinha nojo, repulsa.
Mas que coisa incrível! Um dia essa lagarta sente um chamado da natureza pra se fechar num casulo, e voilà! Depois de um tempo nasce uma borboleta.
Foi quando, já no final da adolescência, que eu escrevi meu texto "A angústia da borboleta".
Pensar que um ser desprezível, que ninguém dá nada pra ele, um dia pode se transformar numa borboleta... Era algo que sempre me intrigou.

Com o advento da internet eu descobri que o nome Vanessa foi criado por um escritor irlandês, Jonathan Swift.
Pensar que meu nome foi inventado por um escritor, uma pessoa que cria livros, foi algo que me fez imensamente feliz.
Embora haja outras explicações, umas dizendo que é de origem grega, e por aí vai, mas imaginar que um escritor inventou meu nome me fez imensamente rica.
E foi aí que aprendi que as coisas tem o significado que damos a elas.

Eu estava entrando a fase adulta da minha existência, ainda não me amanda, ainda não me aceitando, ainda odiando cada detalhe desse ser que eu não tinha escolha a não se conviver com, mas eu estava cada vez mais apaixonada pelo meu nome.

Meu nome era algo especial, e ninguém jamais, JAMAIS poderia roubar isso de mim.

Eu podia ser alguém que não tinha importância, alguém que por ser pobre não foi contratada para trabalhar numa multinacional. Alguém que, por ser pobre e "preta" não foi contratada para ser a recepcionista daquela grande firma de advocacia.
Eu podia ser alguém que, por ser pobre e "preta" não teria nunca uma oportunidade de melhorar de vida devido ao seu CEP (CEP é o zip code, por onde todo mundo fica sabendo onde você mora. E no Brasil o CEP é um divisor de águas entre ricos e pobres).
Eu poderia estar fadada a morar o resto da minha vida no mesmo endereço, ganhando um salário mesquinho e agradecendo à Deus por ter um emprego. Eu poderia ser uma pessoa que, apesar de todo o meu potencial e inteligência, e força de vontade, seria negligenciada a vida toda, mas tinha algo que ninguém poderia mudar a meu respeito, e que pra mim era muito mais importante do que eu o lugar aonde eu morava: meu nome era especial. Meu nome foi criado por um escritor que estava apaixonado e seu amor era proibido. Meu nome tinha um significado maravilhoso.
E foi então que eu aprendi que as coisas não só tem um significado, e que esse significado muitas vezes é mais profundo do que imaginamos, e que o significado que uma coisa tem pra nós reflete em toda a nossa existência.
Eu tinha um nome lindo, espetacular, que significava "lindas borboletas" e que foi criado por um escritor apaixonado.
Amor e amar sempre esteve no meu destino, desde que eu nasci. Eu tenho amor até no nome, na história por trás do meu nome tem amor. 

Se eu aprendi a finalmente me amar? É sobre isso que eu queria falar nesses retalhos.
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domingo, 11 de novembro de 2018

absurdos # 1

Hoje escolhi me isolar do mundo porque não quero me entristecer, e o mundo tem se tornado um lugar muito triste...
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sábado, 20 de outubro de 2018

Berlin

Chateada, e com a alma em quietude angustiante, ela achou que nada podia ser bom naquele dia.
Sem esperanças, apenas se deixou levar pelas horas, até que sucumbiu ao tédio e pediu um pedaço de torta de maçã.
Estava beirando o sentimento de raiva.
Olhou para a torta zombando de sua aparência: não parecia ser gostosa.
E aquele segundo que antecedeu a primeira mordida fez o mundo girar mais devagar.
Ela mal podia imaginar que seu dia estava há apenas um pedaço de torta distante da felicidade.


quinta-feira, 20 de setembro de 2018

is it?

have we always felt this lonely, or now it's too obvious that it's impossible to ignore?

did we always shout out our pain for nobody to hear, or is just now that we have audience?

were we always that crazy and stupid, or is just now that it's registered everywhere that we can realize it?

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terça-feira, 18 de setembro de 2018

quarta-feira, 25 de julho de 2018

segunda-feira, 25 de junho de 2018

aquilo que ninguém quer falar sobre DEPRESSÃO

Eu sofro de depressão.
15 anos se passaram desde que fui diagnosticada. 
Desde os meus 13 anos de idade apresento os sinais. Hoje eu sei, porque li muito a respeito do assunto, e fiz alguns anos de terapia.
Odeio fazer terapia. Passei, ao todo, por 5 terapeutas diferentes, amigos não inclusos neste número.
De todos, apenas uma terapeuta realmente eu gostei. Não estou dizendo com isso que os outros não me ajudaram em nada, apenas que eu só me identifiquei com a última. 
Tive de parar a terapia porque não tinha mais dinheiro pra continuar. 
De todas as vezes em que eu parei de fazer terapia, eu parei por causa de dinheiro.
Tomei remédio 2 anos. Parei por conta própria. 
NÃO FAÇA ISSO.
Mas eu fiz, e me arrependo só em parte.
Os remédios eram fortíssimos e tinham diversas reações adversas, a pior dela, palpitações.
Tão fortes que a médica me receitou rivotril para acalmar meu coração quando começasse a acelerar demais.
O remédio ajudou, mas não resolveu o problema. A terapia ajudou, mas não resolveu o problema.
Sinto que não há nada que resolva o problema.

Enfim, mas não é sobre terapia ou remédios que eu quero falar. E também não estou aqui para ser pessimista e dizer que depressão não tem cura e quem tem está fadado a ser infeliz para o resto da vida. 

NÃO!

Porque eu ainda sofro de depressão, mas não sou infeliz. 
Tenho momentos em que me sinto miserável.
Tenho crises de ansiedade, de pânico... mas quando passa, quando a realidade volta a clarear diante dos meus olhos, eu sou feliz.
As crises passam. Às vezes demora, às vezes passa depressa. Mas passa.
Então posso dizer que sou feliz. Que agora, me sinto bem na maior parte do tempo.
Mas nem sempre foi assim.
E também estou numa fase boa, então as crises são menos intensas, e machucam menos. Consigo colocar os pés no chão mais depressa.

Mas também não estou aqui para falar de crises, nem de como me sinto com relação à depressão. Nem de como eu lido com ela.

Eu quero falar de uma pessoa que eu muito amo, e que também sofre de depressão.
Ela sofre de depressão e de outros quadros psicológicos aos quais eu não me atrevo a falar porque pouco entendo.
Então, na minha opinião, a situação dela é ainda pior do que a minha.
Eu só tenho depressão.

Eu amo demais essa pessoa. E no decorrer dos últimos anos, tenho assistido a felicidade escorrer coração afora dessa pessoa.
Tenho assistido o sorriso lhe cair do rosto.
Tenho sido testemunha da amargura lhe invadir a alma, e ela se trancar, dia após dia, cada vez mais fundo, no profundo de si mesma.

Fui eu quem primeiro disse a ela que procurasse ajuda, pois existe tratamento, e o tratamento pode fazer a vida ser mais leve. 
Graças a Deus ela me ouviu, e depois de muitos anos, foi procurar ajuda.
Está agora em tratamento.
Mas ela está naquela fase de "limbo", onde não se ajustou ainda a medicação, onde ainda não começou a terapia, onde ainda a vida não faz o menor sentido.

E a vida dela não é fácil. Nunca foi, Mas agora parece que a vida caprichou nos desafios e dificuldades, e ela se encontra num momento bastante delicado de sua própria existência, toda a vida ainda meio que bagunçada, entrando nos eixos, mas ainda tudo incerto.
E é óbvio que tudo isso, coisas normais na vida de qualquer ser humano, para alguém com depressão é ainda mais pesado, mais difícil de lidar.

Nos últimos meses sinto que perdi essa pessoa.
Ela não morreu, mas também não está mais lá.
Cada vez que falo com ela, eu procuro arduamente encontrar nem que sejam resquícios de quem um dia ela foi, de quem ela é, mas está cada dia mais difícil.
Ela está se esvaindo, sumindo, pouco a pouco se desintegrando, e tudo isso diante dos meus olhos impotentes.
Bem, não diante dos meus olhos, porque não nos vemos já faz bastante tempo. Moro longe agora.
Mas nos falávamos com frequência, todos os dias, várias vezes ao dia.
Agora quando nos falamos a cada 15 dias, é motivo de comemoração de minha parte.

Ela não quer mais falar comigo.

E eu sei bem como é isso, porque quando você está no ápice dos piores momentos de uma crise (que pode durar desde minutos até mesmo meses ou anos) você não consegue enxergar que você está tão atolada na lama da depressão. Lama essa que te paralisa, cobre seus olhos para que não veja, mancha seu coração para que não sinta alegria, ou sequer algo de bom, e por aí vai.
Só quem já passou por isso sabe do que estou falando.
Me desculpe por não poder explicar melhor.
Nem quero explicar melhor, porque no fim, ninguém entende mesmo.

Nem eu mesma, que sofro com o mesmo problema, em proporção diferente, mas é o mesmo problema, nem eu mesma consigo entender.

Eu não consigo entender quando ela me ataca sem motivos, só porque eu estou tentando me aproximar.
Eu não consigo entender quando ela se recusa a partilhar comigo sua presença, quando eu estou apenas tentando matar a saudade que sinto.
Não entendo quando ela me agride em palavras, só porque eu estou querendo o melhor pra ela.
Não consigo entender porque ela definitivamente precisa de empurrar pra longe, usando as palavras como facas pontiagudas, e cravando elas bem fundo no meu coração, só porque eu estou tentando impedir que ela cai ainda mais fundo do que já está.
Eu não entendo porque ela me bate, me soca, me machuca, e faz de tudo pra me machucar, sabendo que está me machucando, e não para! Só porque eu tento puxar ela pra  cima, fora dessa lama.

Os presentes que eu entrego, ela pisa.
As palavras bonitas que eu trago, como flores recém colhidas do meu jardim precioso, ela ignora de um jeito que as deixa murchar, antes mesmo de eu as entregar pra ela.
Trago essas flores para colorir as sombras que invadem os pensamentos dela.
Mas as sombras são tão escuras que engolem tudo de bom que eu possa oferecer.

E eu, cansada de tanto lutar pra tentar estar pelo menos perto (ainda que distante), machucada por todos os chutes e pontapés que venho recebendo durante meses a fio, com o rosto ainda sangrando, e as mãos ainda curvadas em dor pelas flores que morreram, eu quero apenas ir embora.
Quero apenas correr pra bem longe e nunca mais voltar.

Se é distância que ela quer, então eu me sinto tentada em partir e finalmente lhe dar aquilo que ela vem me pedindo, e que eu luto para não acreditar que ela merece.

Sou apenas um ser humano. Mas eu deveria saber melhor. Eu deveria saber melhor, porque eu conheço o que ela está passando não apenas de lhe ouvir, não apenas de entregar meus ouvidos para suas ofensas como um saco de pancadas, não... Eu conheço de dentro. Eu sei o que ela está passando, e eu conheço a situação vista de dentro, porque eu também já estive um dia assim.

E se eu, que sei como é tão horrível sofrer com a depressão, e não conseguir fazer nada para parar esse sofrimento.. eu que sei exatamente como é isso, não estou conseguindo encontrar mais forças para continuar lutando por essa pessoa a quem tanto amo, quem dirá uma pessoa que não faz a mínima ideia do que é estar com depressão? 
Quem dirá uma pessoa, como tantas e tantas todos os dias, que pensa que o deprimido não sai da situação em que se encontra por falta de força de vontade!
Quem dirá um imbecil desalmado, que acha que o deprimido é apenas um melo-dramático preguiçoso querendo chamar atenção...

Hoje acordei determinada a desistir.
Fiz as minhas malas, recolhi todos os vestígios que eu pude de minha existência na vida dela, juntei meus argumentos, minhas palavras de encorajamento, coloquei tudo em grandes malas e sacos, e sacolas, e estava pronta, já na estação do "IR EMBORA", esperando o próximo trem chegar para eu ir.
E meu coração sangrando, todo machucado, ainda cheio dos espinhos com que ela me feriu, meu corpo ainda cheio dos hematomas dos socos das palavras ríspidas, meus olhos ainda roxos e inchados pela rejeição com que ela me atingiu, e meus braços arranhados com as feridas abertas, por todos os abraços que foram recebidos com lâminas. 
Era assim que eu me encontrava, com minhas malas feitas prontas para partir.
Vi meu reflexo no espelho, e eu me encontrava em situação deplorável também.
O trem chegou, e como que por um instinto eu olhei mais uma vez pra ela.
Ela também estava em uma situação deplorável.
Toda suja, e machucada, e cega, e angustiada, e sobrecarregada debaixo de tantos sentimentos imundos que lhe roubavam a visão.
Ela nem me olhou, não conseguia nem elevar a face, levantar os olhos para ver que eu estava a partir.
Nessa hora um espinho se fincou ainda mais fundo no meu peito, e me fez chorar.
Porque, por mais que eu estava em estado deplorável, eu ainda estava em pé.
Eu conseguia caminhar. Eu conseguia ver.
Ela já não conseguia, há muito tempo.
E o horrível pensamento de a perder pra sempre me deixou desesperada, e eu esqueci de tudo...

Porque pra mim o que mais importa não é o que ela sente por mim nesse exato momento.
O que mais importa é como eu me sinto por ela.
E eu a amo.
E quando a gente ama, o amor é um bálsamo poderoso.
O amor veio fazendo curativos e limpando as minhas feridas. Me dando anestésico para a dor. Me dando alimento para a alma abatida, e força nos meus pés cansados.
E foi por isso, pelo amor que tenho por ela, que eu fiquei e ainda fico.

Uma hora essa crise dela vai passar, porque pela experiência eu sei que as crises não duram para sempre. E quando esse momento chegar, eu quero estar lá para que ela me veja, e reconheça que eu sempre estive lá.

Que Deus me ajude, e sempre me encha de amor para que eu possa esperar por este dia, e estar de pé.


domingo, 24 de junho de 2018

segunda-feira, 28 de maio de 2018

bravura

"Ela morria de medo de trovão.
Mas se aventurou a sair na chuva, só pra salvar uma flor..."

segunda-feira, 21 de maio de 2018

quinta-feira, 10 de maio de 2018

identidade

hoje a chuva com trovoada me fez sentir muita saudade de casa.
me joguei no sofá e fiquei ouvindo músicas na minha língua, só pra me lembrar de quem sou e aonde pertenço.
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sexta-feira, 16 de março de 2018

de tudo um pouco


Das noites quentes de verão, quando caminhávamos pela avenida barulhenta, desviando de pessoas que também não tinham nada melhor para fazer, e falávamos sobre tudo e nada. Discutíamos a vida, a complexidade do mundo, e a banalidade que é o viver de aparências.
De todas as vezes em que estivemos na Pitoresca, inclusive aquela vez em que fiquei bêbada de chopp de vinho e eu chorava minha dor. Ou quando apenas ríamos e estávamos lá um pelo outro, no melhor modo de se viver o “um por todos e todos por um”.
Dos momentos que passamos pensando em letras e melodias, ou simplesmente cantando.
Da comida, e do cheiro de comida fresca.
Do cheiro de café pela manhã que inundava a casa toda.
Do barulho do saco de pão.
Do barulho no portão...
Do miado do Sofy.
Da voz dela ao entoar hinos ao nosso Deus.
Da voz dele contando histórias e nos fazendo rir.
Daquele sentimento de que nada podia dar errado, só porque estávamos juntos.
Das brigas por coisas idiotas.
Das filas no cinema...
Do cheiro de pão saindo do forno.
De olhar fotos antigas.
De sentar em frente à árvore de Natal em silêncio, até tarde da noite, apenas ouvindo as mesmas velhas canções.
De esperar pelo Natal.
De ansiar pela estrada.
Da esperança no futuro.
De compartilhar os mesmos medos.
Do sentimento de que o medo ficava menor só por estarmos juntos.
De chegar em casa depois do trabalho num dia frio e sempre dizer: “você não faz ideia do frio que está lá fora”.
De receber uma mensagem que dizia: “vem aqui”.
Dos convites que sempre começavam com “vamos comigo...?”
De chegar em casa trazendo algo gostoso pra comer.
Ou de chegar em casa e ter algo gostoso pra comer.
De comemorarmos juntos uma conquista, por menor que fosse.
Do décimo terceiro salário...
De comer pastel.
De entregar presente...
De orar de mãos dadas.
De entrar sem bater na porta.
De feriado prolongado, mesmo ficando em casa sem fazer nada.
De jogar a chave por debaixo da porta.
De esconder a chave na janela ou na máquina de lavar.
De ficar horas na cabeleireira com ela.
De tomar café da tarde junto.
De brigar pra ver quem vai pedir a pizza.
De andar no shopping num domingo chato.
De andar no Carrefour só porque não tinha nada melhor pra fazer.
Enfim, de uma vida que já não é mais minha, de momentos que jamais se repetirão, de espaços que já não ocupo, de vozes que já não escuto, de mãos que já não me aquecem, de abraços que já não acontecem, de datas que já não me importam, de planos que nunca aconteceram, de risadas que não tenho mais, das melodias que ficaram pra trás, de tudo isso e de muito mais, eu sinto tanta saudade.
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

meritocracia na Dinamarca

Reparei uma coisa, só agora. Só nesse exato momento, pra ser mais precisa, que eu percebi isso. Aqui na Dinamarca não se fala em "meritocracia".


E por que será né?


Um país onde universidade além de ser de GRAÇA, ainda o governo oferece um salário (ajuda de custo, vamos dizer assim) para TODOS os estudantes. A coisa agora tá mudando, porque muita gente tava se aproveitando e vindo de tudo que é país da Europa pra estudar aqui de graça e ter esse dinheiro. Sem contar outras coisas...


Mas enfim, voltando à meritocracia, não se fala.


Faculdade gratuita, e menos de 10% da população tem nível universitário. (de acordo com esse site aqui: Danmarks Statistik


E muitos, MUITOS jovens não querem fazer faculdade de qualquer jeito. Eles não vêem a hora de terminar o "gymnasium" (algo tipo o ensino médio só que diferente) para irem ao mercado de trabalho encarar a vida.


Claro, é preciso dizer que aqui existem várias opções, não somente a faculdade. Praticamente todo canto que você vai trabalhar, será exigido o diploma (certificado) de um curso. E esses cursos tem a duração média de 3 anos e meio. Tipo, o mecânico faz um curso de mecânica, que envolve teoria de alguns meses e prática de alguns anos, para ter o certificado de mecânico. E só assim ele será contratado como mecânico pra trabalhar em uma oficina e tal. Ou seja, não é nível universitário mas seria o equivalente aos nossos cursos técnicos no Brasil.


E o povo vive bem aqui. Vive tão bem que eu fico com dó do meu povo brasileiro. Só agora, morando aqui, eu vejo como o povo brasileiro sofre, é maltratado e nem se dá conta disso muitas vezes, como eu não me dava.


Aqui "status" se mede não pelo valor das coisas, não pelas viagens, não pelas roupas que se veste. Status se mede pelo trabalho que se tem.

E nem sempre um emprego que dá status dá dinheiro também. Por exemplo, ser professor é uma coisa dá um certo status, mas não dá tanto dinheiro assim.


O que pode soar como uma discrepância, mas é isso mesmo.


A tal ponto que, na "sprogskole" (escola de idiomas), teve um dia que eu fiquei p... da vida porque uma professora veio como uma atividade pra gente fazer tão ridícula, tão babaca, que eu não pude acreditar.


Era uma folha com mais de 50 tipos de profissão, desde "porteiro da discoteca" até "cirurgião".

E a atividade consistia no fato de termos de escolher as 3 profissões que mais davam "status" e as que menos davam status. Engraçado que eu, na minha ignorância e preconceito, já fui logo marcando "escort pige" (no bom e velho português, prostituta) como sendo uma profissão que não dá status.
Mas aqui na Dinamarca o povo não tem esse preconceito. Inclusive é bem comum. O povo brinca aqui dizendo que "desde que você pague os impostos, você pode fazer o que quiser".


E por falar em impostos, são altíssimos aqui. Mas o cirurgião, o advogado, o dentista (que por sinal é uma profissão que aqui além de status dá muito dinheiro), vão ao mesmo médico que o motorista do caminhão do lixo e a "escort pige" vão.


Aqui o trabalhador tem direito à greve, e não é chamado de vagabundo preguiçoso. Eles entendem que é assim que direitos trabalhistas são adquiridos.


O povo trabalha 37 horas por semana (e a diferença salarial de uma pessoa que trabalha na limpeza, para uma pessoa que leciona línguas, por exemplo, não é tanta não. Algumas profissões dão muito dinheiro, como por exemplo farmacêutico, advogado, dentista, engenheiro, médico. Essas, óbvio, são também as consideradas de alto status); tem 5 semanas de férias, são pagos pelas horas extra, mulheres podem tirar até 1 ano de licença maternidade (e os homens 2 semanas), e ainda assim o povo faz greve.


Empresas não podem sair fazendo o que bem entende na jornada de trabalho, porque o sindicato cai matando em cima, e cai mesmo. Tudo tem que ser negociado com o sindicato, não existe essa de "empregado negociar direto com o empregador".




O povo trabalha bastante, é verdade. Aqui também tá um pega pra capar pra mudar as leis previdenciárias, porque homens se aposentam com idade mínima de 65 anos também, e estão brigando pra esticar isso. Mas o povo brigando de volta, porque uma pessoa que trabalha em construção, como pedreiro(a) por exemplo, não aguenta trabalhar muito mais do que 65 anos, se comparado a um advogado. E só sendo muito burro pra não entender os motivos aqui.


Não sei muito, mas ouvi dizer que muitos países europeus seguem essa linha aí de direitos trabalhistas. E não canso de rir das piadas do povo que fala dos "coxinhas", vamos chamar assim pra facilitar, porque se eu for explicar, esse texto não acaba mais... Enfim, piadas que fazem com os coxinhas que saem do Brasil pra ir tentar a vida na Europa, e chegando aqui tem que engolir todo o monte de merda que falam sobre grevistas, meritocracia, e por aí vai, pra se submeter - muitas vezes - a um regime de governo semelhante - se não igual - ao que eles tanto abominam no Brasil.


Vi uma tirinha falando sobre meritocracia outro dia no Facebook. Daí mostrava um padeiro acordando cedão, e dizia que "se esforço e trabalho duro decidissem a vida, o padeiro seria rico", algo assim. E alguém comentou: "Não adianta acordar cedo e se acomodar com a situação".


Gente, será que é tão difícil assim ver que o padeiro merece uma vida digna, tanto quanto o advogado?


Por que será que o povo é tão burro? Tão cego? Tão alienado?


Então só tem direito à dignidade aquele que tem uma profissão de alto calibre? Uma profissão que "dá status"?


Ah, e apesar de uma profissão como "porteiro da discoteca" não dar status por aqui, ela dá direito a uma vida digna, se esse cara trabalhar 37 horas por semana. Provavelmente não é possível trabalhar em uma só boate, uma vez que a boate abre poucos dias na semana, e ele provavelmente trabalha poucas horas por noite, mas esse cara deve ter um outro trabalho durante o dia. O que eles chamam aqui de "part time job". Ele deve ter 2 desses, enfim.


E a meritocracia?


Aqui não precisa nem falar disso, porque basta ter um emprego ("full time job" = 37 horas por semana) pra ter uma vida digna. Nem que seja na limpeza.