domingo, 17 de março de 2013

a angústia da borboleta


De repente, fechou-se num casulo onde nem luz podia entrar, quem dirá algum outro ser.
Ficou trancada pensando estar fugindo? 
Será que pensava estar morrendo? 
Será que sofria ali? 

Naquele seu pequeno mundo, que agora criara, a lagarta sente-se protegida. 

De fato, protege-se? 
Protege-se ou torna-se ainda mais vulnerável?
Pensa estar se defendendo? 

Creio que não. 
Imagino que a lagarta, ao entrar no casulo, sabe de todos os riscos que corre. Sendo lagarta pode ao menos enxergar os perigos que lhe sondam. Mas, dentro de um casulo, o que pode ver? O que pode ver senão a longa espera? 

Será que a lagarta pensa duas vezes antes de querer se tranformar em uma borboleta? Ou será que é puro instinto?
Conheço tão pouco de borboletas... mas posso imaginar a sua angústia. 

É necessário morrer para ser transformado! É preciso que a lagarta "morra" para que nasça a borboleta.
Abrir mão de ser lagarta não deve ser fácil.
Uma lagarta rasteja pelo chão, come folhas, é nojenta e pegajosa, causa repulsa. Uma certa garantia e defesa natural.

Já as borboletas voam pelo ar, enfeitam e alegram ambientes, atraem olhares admirados, carregam o pólen das flores. 

Para uma lagarta o chão é o máximo que se pode almejar. O chão não é lá um lugar muito seguro, mas ela o conhece. Sabe tudo sobre ele, sempre viveu nele, e por mais que sonhe com as flores, com o ar, não passa de uma lagarta que não sai do chão.

Um belo dia, um estalo. Sente o chamado a se trancafiar em uma crisálida. Local escuro, fechado, quase sem ar. Quase um sepulcro. E a lagarta sabe o que lhe espera: "a morte". 

Ela vai transcender... 

E os dias que não passam... os dias são sempre escuros dentro dos casulos. 

E, talvez, sinta algo a esmagar.
O que será que ocorre dentro de um casulo? Quais as sensações que predominam naquele minúsculo ambiente?
E a dor de estar se destituindo do seu estado de lagarta para se tornar um outro ser deve ser imensa.

Que tipo de mutação e milagre acontece dentro do casulo?

Então, depois de muitos dias, sente que o casulo ficou mais apertado. Sente que não consegue mais respirar, sente que aquela jaula onde se prendera por tantos dias já não pode mais conter ou segurar as suas asas... 

Asas? Mas ela sabe já ter asas?

Não sei. Só sei que da mesma forma que sabe que tem de construir o casulo e nele se manter fechada, ela sabe que deve se libertar.
Para que uma borboleta seja de fato borboleta, deve abandonar o casulo. Por um tempo foi necessário, mas não pode adota-lo como morada, porque certamente morrerá.

De repente, trava uma luta contra seu próprio forte. Ele foi obra de suas próprias mãos, e agora tem de destruí lo para viver. 

Como a vida se contradiz às vezes... 

No ímpeto de querer se libertar ela luta. Já é uma borboleta, muito embora não conheça ainda o colorido de suas asas. Algo dentro dela diz que já não é mais uma lagarta, e que deve voar.
E essa luta é muito dolorosa. Não é fácil desprender-se de nossos antigos "ideais" e "ideias". Mas, mais do que querer ser livre, ela quer viver. A liberdade, nesse caso, é apenas uma consequência.

E talvez ela queria desistir de tentar, pois não deve ser fácil livrar-se de um casulo tão bem feito.
Ao se fechar na crisálida, a lagarta fica ainda mais vulnerável, certamente. Mas deve-se correr o risco se quiser ser borboleta.
E não é qualquer lagarta que pode vir a ser uma borboleta. 

E, talvez, por sua própria vontade, vivesse a vida toda como lagarta. Mas a natureza dispõe de um alarme, e ela sabe e atende ao seu destino.

Por mais que pense ser a morte, depois de todas as dores, depois de ter vencido o seu próprio cárcere, ela desponta. E abre linda as suas asas. 
E já nasce sabendo voar... Afinal, foi para isso que se trancou por tanto tempo. 

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