quarta-feira, 14 de abril de 2021

velhice

Hoje acordei me sentindo velha.

Mas não velha como são velhas as pessoas de mais idade, que tem o rosto marcado pela vida em forma de pele enrugada.
Acordei me sentindo velha, mas não como são velhas as pessoas as quais os corpos, gastos pelos anos, não funcionam como se deseja, e doem os ossos e caem os dentes e os cabelos.

A velhice que me abate hoje não é a mesma que recae sobre aqueles que precisam de remédios e cuidados diários para garantir a manutenção da máquina humana, enferrujada pelo passar do tempo.
Sinto uma velhice que não é aquela que esquece, lentamente, de toda uma vida vivida com lágrimas e lutas, e dores e alegrias, e que pouco a pouco a lembrança se esvai como uma foto antiga fica desbotada até perder toda a cor.

Sinto o cansaço, mas não o cansaço de quem batalhou toda uma vida e agora senta-se no balanço e olha as pessoas passarem enquanto lembra de como a vida era diferente antigamente.
Eu hoje acordei velha, mas não ranzinza como os velhos em que a vida abateu seus espíritos e agora não tem mais paciência para nada.
Essa velhez que em mim hoje cai é uma longitude imaginária, que distancia e separa dentro da minha cabeça todas as partes do que eu sou.

Essa velha que hoje estou, sente o peso de todos os meus anos, os que foram e os que virão, embora eu não saiba quantos.
É uma velhice na alma, que faz ranger meus dentes e me seca a boca.
É uma velhice passageira que vem me visitar em momentos vazios. Que traz consigo toda a sorte de remorsos, como todos os velhos tem.

E quando contemplo meu eu jovem, sorridente e cheia de sonhos, essa velha que em mim hoje resolveu brotar, não sabe mais o que é folgar.



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