terça-feira, 6 de junho de 2017

olhando para além do umbigo da Dinamarca

Para todos aqueles que não moram no umbigo da Dinamarca, e para aqueles que não conseguem olhar além do seu próprio umbigo, há uma notícia devastadora: a Dinamarca não é "SÓ" Copenhague. Isso mesmo. Eu sei, parece difícil de acreditar, eu mesma não acreditaria se não fosse o caso de euzinha aqui estar morando não no umbigo, mas em algum lugar esquecido da Dinamarca. Moro em uma cidadezinha minúscula no interior da Jutland.

Mania que as pessoas tem de achar que a Dinamarca se resume à Copenhague!

Precisei desabafar, não que alguém se importe, mas, uma vez que a internet é livre...
E por ser livre, outro dia estava eu a navegar por esses mares muitas vezes turbulentos, e vi um vídeo de uma mulher que - adivinha: mora em Copenhague - onde ela dizia que o interior não é interessante ou não é tão interessante, não lembro as palavras exatas.

Realmente, não é nada interessante ter um riacho bem na esquina da sua casa, onde pessoas vão de caiaque cruzando todas as cidadezinhas por onde o riacho corta. Também não é nada interessante o fato de que, em dias de sol e calor (coisa rara aqui na Dinamarca, especialmente para os lados em que eu vivo) você poder ir nadar num lago de águas cristalinas e, acredite-me nessa aqui também: águas mornas. Sim, as águas do lago são mornas em dias quentes. Mas não tenha expectativas altas quando digo água morna, porque a água é morna para os padrões dinamarqueses de águas congelantes.

Chatíssimo acordar um belo dia e ter uma lebre passeando pelo quintal, ou ter a visita inesperada de um veado. Ou estar dirigindo numa noite escura de inverno e de repente dezenas de luzes no meio da estrada piscando, e você se pergunta "que p... é essa?" e quando vê, pelo menos 40 veados no meio da estrada apenas "hanging". Não é um espetáculo interessante de se ver, de jeito algum.

Dirigindo pelos vilarejos lá pros lados de Aarhus e Horsens, tem aquelas casas que parecem saídas de contos de fadas, com telhados "stråtag", lindas lindas lindas!!! Com aquelas ruazinhas cheias de flores no caminho, estreitas, curvilíneas, e as casas com flores adornando ainda mais a paisagem de encher os olhos e o coração. Tanto me sinto dentro de um conto de fadas que, no inverno, no meio da floresta, vi uma casa saindo fumaça da chaminé e não pude evitar de pensar que ali morava uma bruxa.

O interior é absolutamente nada interessante. Na  cidadezinha onde vivo, temos UM único pub, onde nos finais de semana sempre tem música ao vivo e a galera toda vai lá pra curtir um som e dançar até às 3 da manhã, que é quando fecha o bar. Também temos um hotel que SEMPRE tem alguma apresentação musical, chamado de Ansager Musik Hotel por uma razão bem desinteressante. Cujo restaurante tem uma comida sensacional em um ambiente totalmente familiar. Lugar perfeito pra um jantar no domingo entre família. E se está querendo convidar amigos, eles tem um bar também no hotel, que agora estão tentando transformar em bar-café ou algo que eu sinceramente ainda não entendi, mas que é bem pequenininho e ridiculamente-desinteressantemente aconchegante, ao melhor estilo "hyggeligt" dinamarquês.

Também ainda na cidadezinha onde moro, temos em setembro o Marie Festival, que é bem bacana também, onde pessoas se reúnem com amigos e família para ouvir música, comer besteiras, tomar uma cerveja e colocar a fofoca em dia, claro. Porque uma coisa típica de cidade pequena é a fofoca.

Sem contar outros eventos menores onde o bar da cidade coloca uma tenda e vende cerveja e refrigerantes, e aluga brinquedos para as crianças, e no sol (que não foi alugado, porque infelizmente evento desse porte ainda não é possível de se contratar) que por mera coincidência resolveu sorrir pra nós naquela tarde com calor e tudo mais, a galera toda se reuniu na pracinha pra bate-papo, risadas, cervejas e muito "hygge".

As crianças de 6 anos de idade vão pra escolas sozinhas em suas bicicletinhas. Coisa surreal para uma paulistana como eu, porque não dá pra imaginar tal cena em São Paulo. Mas talvez isso aconteça em todo o canto na Dinamarca, e não seja privilégio apenas do interior, mas como posso saber se eu moro no interior?

Aqui todo mundo tem jardins enormes. E parece que estão sempre numa competição pra ver quem tem a grama mais verde, mais bem aparada e o jardim mais organizado. Inclusive, se sua grama estiver alta, certamente você vai cair na boca da vizinhança, porque eles ficam o tempo todo controlando a grama do vizinho. E não estou exagerando. 

Varde, que é a cidade a qual minha cidadezinha pertence, fica a apenas 13 km daqui. Lá, também pequenininha a cidade, mas tem tudo o que se precisa: Matas, Apotek, Lidl, Rema 1000, Audi, Kvickly, Fakta, lojas de roupa e brinquedos, a minha tão amada Tiger, Imerco, Bancos, a praça onde eventos ocorrem, inclusive exposições de arte, restaurantes, coffee shops, enfim. Até uma balada tem, mas geralmente pessoalzinho de 15 a 20 anos que frequenta, e como eu já estou dobrando a esquina, para mim isso realmente não é interessante. 

Nunca fui de balada, e olha que eu vim de São Paulo, a cidade que nunca dorme. Sempre fui mais dos livros, e quando podia fugia para o parque do Ibirapuera, porque árvore é artigo de luxo em São Paulo. E agora me encontro rodeada por árvores, animais, aconchego, sossego, ar limpo e pessoas que me sorriem no mercado, apesar de eu ser estrangeira.

Esbjerg fica mais longe daqui, fica a mais ou menos 40 km, mas isso de carro dá meia hora mais ou menos. Pra quem veio de São Paulo, meia hora pra chegar num lugar é nada. E lá, por ser uma cidade grande - a 5a maior cidade da Dinamarca - você encontra tudo, tudo mesmo. Tem Bilka, tem um Shopping Center, tem MUITOS restaurantes, e coffee shops, e lojas de tudo que se imagina (claro, nunca podendo comparar com São Paulo, porque né...). No centro da cidade, na praça principal, nessa época do ano de "calor" tem sempre algo rolando: música, esportes, enfim.

É claro, aqui no interior as lojas fecham no sábado à tarde, por volta das 14h. Porque por aqui as pessoas se preocupam em descanso, em tempo pra família, qualidade de vida. Mas em Esbjerg você encontra lojas abertas até mais tarde, inclusive o Bilka agora fica aberto até meia noite. Sempre que sinto saudade do agito de São Paulo eu vou ao Bilka, que me lembra muito o Carrefour, aberto até tarde da noite, cheio de gente não importa a hora.

Não tem como comparar Copenhague com o resto da Dinamarca, mas isso não é motivo para desmerecer o resto do país.

Ano passado a rainha esteve aqui em Varde. Foi um evento e tanto, porque ela toda linda naquela carruagem de filmes, acenando pra todo mundo, que o mais longe que ficou dela foram apenas poucos metros. Todo mundo podia ver a rainha e sorrir, e se quisesse (se aqui fosse Brasil) gritar todo o tipo de elogios (ou não) pra ela. Talvez ela tenha tido a pachorra de visitar Varde, uma cidadezinha numa área esquecida da Dinamarca que o povo de Copenhague talvez nem saiba (e que certamente não se lembra) que existe para lembrar todo mundo que a Dinamarca é muito mais do que Copenhague. Que bom que pelo menos a rainha se lembra de nós a ponto de se dar ao trabalho de visitar.

Mas essa é só a minha opinião. Eu espero que tenha ficado claro para quem leu até aqui que é apenas meu ponto de vista sobre o interior. Não posso dizer absolutamente nada sobre Copenhague, por exemplo, porque estive lá todas as vezes apenas como turista. E na minha opinião, Copenhague é uma típica cidade grande europeia, como que uma mistura de Londres com Paris. De novo, minha opinião. E pontos de  vista são muito pessoais. Tem gente que gosta disso que eu falei, tem gente que abomina e precisa estar no núcleo da cidade grande. Enfim... Graças a Deus que a Dinamarca - assim como o Brasil também - é muito mais do que apenas as cidades grandes, e o interior está aí pra provar isso.

(fotos de arquivo pessoal)






7 comentários:

  1. Gostei do seu texto. Sou também de SP - morei na Vila Romana e na Santa Cecília - e sinto exatamente isso, que as pessoas só conhecem Copenhague. O que eu vejo é que é a mídia no Brasil é uma grande vilã nesse sentido, mas ainda bem que estamos aqui, brasileiras da cidade grande morando no interior (eu moro em Holstebro) pra provar que o interior dinamarquês tem seu valor.
    Grande abraço e passe lá no Brasileiras Pelo Mundo pra conferir meus artigos, quando quiser :)

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  2. Gostei do texto! Há empresas de varias areas nesta cidade? Poderia, por favor, falar quais sao as empresas na area de telecomunicações? Se tiver instagram, poderia tambem indicar? Obrigada

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Eu sou Formada no Brasil e em Portugal (onde atualmente vivo). Os diplomas do Brasil estao apostilados agora os de Portugal vou mandar validar, mesmo sabendo eles fazendo em Ingles e Portugues. Estou mesmo a procura de um local tranquilo pois sou mae de um casal e sinceramente ja nao quero trabalhar longe de casa e perder o crescimento das minhas crianças :D

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Pense em uma leitura gostosa que me encantou do início ao fim. Riqueíssima descrição de um lugar lindo, charmoso e que eu gostaria muito, mas muito de conhecer, pois como você sou mais afoita ao livros do que ao barulho. Eu te seguirei! Que venha suas próxiasm peostagens! Belo blog! Parabéns!

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  4. nossa Adelma, muito obrigada pelo seu comentário! Muito mesmo! Fez meu coração sorrir nessa tarde fria e nublada... Deus abençoe!!! Grande abraço!!!!

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