sexta-feira, 31 de maio de 2013

maio

Hoje é o último dia de maio.
Hoje é também o último dia em que eu penso no que passou.
Hoje será o enterro do meu passado.
Hoje todas as memórias serão enterradas. 
Memórias não são esquecidas, mas enterradas.
Hoje eu vou abandonar essa casa que já não me pertence mais.

Hoje eu vou embora.
Risos e lágrimas... Está tudo embalado, tudo preparado para ser deixado para trás.
Fotografias já foram queimadas. E enquanto a fumaça se dissipa no ar, eu vou enterrando tudo.
Os fantasmas de pessoas que aqui habitaram ainda perambulam aqui e ali.
Ainda posso ouvir suas vozes, vejo seus rostos vivendo inocentemente o presente que já não existe mais.
Eles não me olham, ignoram minha presença. Porque essa eu que aqui está não existe ainda para eles.
Eu olho para aquela eu, também fantasmagórica que caminha e arruma a bagunça, e não sei se sorrio ou se choro. Porque ela também não existe mais.
Dela também me despedirei.

Geralmente eu odeio despedidas. Mas não dessa vez.
Me agarrei a esse passado tempo demais.
Estou fechando as cortinas, empilhando as caixas com tudo o que já fui um dia e não mais serei.
Estou deixando ir...
Estou me deixando partir.
Distanciei-me de tudo aquilo.
Agora olho como quem não reconhece aquelas paisagens, as pessoas, as miragens.
Meus pedaços, tantos pedaços quanto fui partida pelo chão, agora não recolho mais.
Simplesmente porque aquela eu não existe mais, não importa mais.
Eu não remendei os pedaços.
Eu me refiz.
Hoje sou outra pessoa completamente diferente.
E justamente por isso posso dizer adeus a este passado. Porque ele não é meu.
Ele pertence a uma eu que não sou eu.
Ele pertence a alguém que não mais existe.
E com profundo respeito e gratidão eu estou trancando a casa.
Dou uma última olhada e percebo que na verdade está vazia há muito tempo. Tem poeira acumulando por todos os lados e cantos.
Aos poucos os fantasmas vão desvanecendo diante dos meus olhos.
Aos poucos os ecos dos risos e lágrimas vão baixando de volume até que nada mais escuto, senão o som da minha própria respiração.
Todas as músicas se calaram.
Todos os sons se retiraram.

Todas as cores se apagaram.
Resta só o vazio inabitado.
Lentamente dou as costas. Viro o trinco e tranco a porta.

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