Vou arrastando a minha carcaça cansada.
Toda ralada, pedaços de mim foram deixados no caminho. Caíram, desapegaram-se do meu corpo, e lá estão a apodrecer, enquanto eu sigo adiante.
Sigo chorando quando tenho lágrimas. Quando não tenho é ainda mais penoso, porque ao menos as lágrimas umedecem o terreno arenoso pelo qual me arrasto, e forma lama.
Quando não tenho lágrimas apenas sigo. Olhos vidrados.
Já nem me lembro mais como vim parar aqui.
Já nem me lembro mais para onde estou indo.
Eu simplesmente sigo.
A morte caminha comigo. Lado a lado, de vez em quando ela fala aos meus ouvidos fazendo-me propostas tentadoras.
Eu sempre escuto o que ela diz, mas nunca dei ouvidos.
Meus pés estão destruídos, machucados demais para me colocar em pé.
Minhas mãos estão tortas, quebradas, ásperas demais para que eu possa enxugar as minhas lágrimas.
Então as lágrimas rolam pelo meu rosto, caem, formam lama, e meu rosto está quase sempre molhado.
E o meu olhar está quase sempre embaçado.
E as minhas mãos estão constantemente sujas.
E os meus joelhos estão irremediavelmente esfolados.
Tento manter a cabeça erguida.
Não porque tenho dignidade, não porque tenho fé.
Nada disso.
É só uma questão de sobrevivência. Tento manter a cabeça erguida para não comer tanto pó.
Meus pulmões fecham-se de tanta poeira inalada. Já sinto me faltar o ar.
O ar me falta. E isso não é nada engraçado. Não é nada exagerado, literalmente me falta o ar.
Às vezes sou tão lenta na caminhada que chego a sentir o chão girar embaixo do meu corpo moído.
E isso não é nada romântico. Não é nada bonito. Não é uma sensação boa sentir a Terra girar.
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