quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

tic tac


Eu estava ali sentado.
E sentado ali estava eu.
Olhava para o espelho e me perguntava:
“Quem é essa pessoa estranha que me olha profundo nos olhos?”
E não tive resposta alguma.
Engraçado como quanto o mais o tempo passa, menos sei de mim mesmo.
E cada vez menos me reconheço no espelho.
Não sei se gosto do que vejo.
Não sei se vejo o que gosto, ou o que gostaria.
Gostaria se não fosse, e seria se não gostasse?
Não sei. Sei somente que esse estranho agora toma a minha cara.
E minhas ações ele rege, como a uma orquestra, lindamente.
E pasmo, parado, fico eu a observar calado
A cada gesto, a cada passo... cada sorriso e cada lágrima
Deixados caídos, aos cacos, pelo caminho solitário.
É solitário existir.
Às vezes é muito solitário ser.
Mas, sendo, e só assim, posso acordar de mim mesmo.
Abrir os olhos para o mundo e enxergar outras pessoas
Outros espelhos, outras máscaras, outras caras, outros gestos
Novas sinfonias, e regentes, e atitudes e enigmas.
O espelho?
Continua ali na minha frente. Parado. Estático. Empoeirando bem diante dos meus olhos.
Gastando pelo mero passar do tempo.
Ao simples tic-tac do relógio ele vai, lentamente, sendo...
E eu, mais lentamente ainda, vou, lindamente, deixando de existir...
E cada vez mais vou me tornando aquilo que eu um dia serei.
O quê? Talvez nunca saberei.

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