sexta-feira, 16 de março de 2018

de tudo um pouco


Das noites quentes de verão, quando caminhávamos pela avenida barulhenta, desviando de pessoas que também não tinham nada melhor para fazer, e falávamos sobre tudo e nada. Discutíamos a vida, a complexidade do mundo, e a banalidade que é o viver de aparências.
De todas as vezes em que estivemos na Pitoresca, inclusive aquela vez em que fiquei bêbada de chopp de vinho e eu chorava minha dor. Ou quando apenas ríamos e estávamos lá um pelo outro, no melhor modo de se viver o “um por todos e todos por um”.
Dos momentos que passamos pensando em letras e melodias, ou simplesmente cantando.
Da comida, e do cheiro de comida fresca.
Do cheiro de café pela manhã que inundava a casa toda.
Do barulho do saco de pão.
Do barulho no portão...
Do miado do Sofy.
Da voz dela ao entoar hinos ao nosso Deus.
Da voz dele contando histórias e nos fazendo rir.
Daquele sentimento de que nada podia dar errado, só porque estávamos juntos.
Das brigas por coisas idiotas.
Das filas no cinema...
Do cheiro de pão saindo do forno.
De olhar fotos antigas.
De sentar em frente à árvore de Natal em silêncio, até tarde da noite, apenas ouvindo as mesmas velhas canções.
De esperar pelo Natal.
De ansiar pela estrada.
Da esperança no futuro.
De compartilhar os mesmos medos.
Do sentimento de que o medo ficava menor só por estarmos juntos.
De chegar em casa depois do trabalho num dia frio e sempre dizer: “você não faz ideia do frio que está lá fora”.
De receber uma mensagem que dizia: “vem aqui”.
Dos convites que sempre começavam com “vamos comigo...?”
De chegar em casa trazendo algo gostoso pra comer.
Ou de chegar em casa e ter algo gostoso pra comer.
De comemorarmos juntos uma conquista, por menor que fosse.
Do décimo terceiro salário...
De comer pastel.
De entregar presente...
De orar de mãos dadas.
De entrar sem bater na porta.
De feriado prolongado, mesmo ficando em casa sem fazer nada.
De jogar a chave por debaixo da porta.
De esconder a chave na janela ou na máquina de lavar.
De ficar horas na cabeleireira com ela.
De tomar café da tarde junto.
De brigar pra ver quem vai pedir a pizza.
De andar no shopping num domingo chato.
De andar no Carrefour só porque não tinha nada melhor pra fazer.
Enfim, de uma vida que já não é mais minha, de momentos que jamais se repetirão, de espaços que já não ocupo, de vozes que já não escuto, de mãos que já não me aquecem, de abraços que já não acontecem, de datas que já não me importam, de planos que nunca aconteceram, de risadas que não tenho mais, das melodias que ficaram pra trás, de tudo isso e de muito mais, eu sinto tanta saudade.
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