Das noites
quentes de verão, quando caminhávamos pela avenida barulhenta, desviando de
pessoas que também não tinham nada melhor para fazer, e falávamos sobre tudo e
nada. Discutíamos a vida, a complexidade do mundo, e a banalidade que é o viver
de aparências.
De todas as
vezes em que estivemos na Pitoresca, inclusive aquela vez em que fiquei bêbada
de chopp de vinho e eu chorava minha dor. Ou quando apenas ríamos e estávamos
lá um pelo outro, no melhor modo de se viver o “um por todos e todos por um”.
Dos momentos
que passamos pensando em letras e melodias, ou simplesmente cantando.
Da comida, e
do cheiro de comida fresca.
Do cheiro de
café pela manhã que inundava a casa toda.
Do barulho
do saco de pão.
Do barulho
no portão...
Do miado do
Sofy.
Da voz dela
ao entoar hinos ao nosso Deus.
Da voz dele
contando histórias e nos fazendo rir.
Daquele
sentimento de que nada podia dar errado, só porque estávamos juntos.
Das brigas
por coisas idiotas.
Das filas no
cinema...
Do cheiro de
pão saindo do forno.
De olhar
fotos antigas.
De sentar em
frente à árvore de Natal em silêncio, até tarde da noite, apenas ouvindo as
mesmas velhas canções.
De esperar pelo
Natal.
De ansiar
pela estrada.
Da esperança
no futuro.
De
compartilhar os mesmos medos.
Do
sentimento de que o medo ficava menor só por estarmos juntos.
De chegar em
casa depois do trabalho num dia frio e sempre dizer: “você não faz ideia do
frio que está lá fora”.
De receber
uma mensagem que dizia: “vem aqui”.
Dos convites
que sempre começavam com “vamos comigo...?”
De chegar em
casa trazendo algo gostoso pra comer.
Ou de chegar
em casa e ter algo gostoso pra comer.
De comemorarmos
juntos uma conquista, por menor que fosse.
Do décimo
terceiro salário...
De comer
pastel.
De entregar
presente...
De orar de
mãos dadas.
De entrar
sem bater na porta.
De feriado
prolongado, mesmo ficando em casa sem fazer nada.
De jogar a
chave por debaixo da porta.
De esconder
a chave na janela ou na máquina de lavar.
De ficar
horas na cabeleireira com ela.
De tomar
café da tarde junto.
De brigar
pra ver quem vai pedir a pizza.
De andar no
shopping num domingo chato.
De andar no
Carrefour só porque não tinha nada melhor pra fazer.
Enfim, de
uma vida que já não é mais minha, de momentos que jamais se repetirão, de
espaços que já não ocupo, de vozes que já não escuto, de mãos que já não me
aquecem, de abraços que já não acontecem, de datas que já não me importam, de
planos que nunca aconteceram, de risadas que não tenho mais, das melodias que
ficaram pra trás, de tudo isso e de muito mais, eu sinto tanta saudade.