segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

amanhecer

Porque estava triste, colocou músicas ainda mais tristes para tocar.
Quem sabe a tristeza das músicas pudessem aquecer seu coração, que estava mais frio do que gelo.
E porque estava cansada, não parou de dançar, enquanto seus pés puderam suportar o frio do chão molhado pelo gelo que o céu descarregou sobre sua cabeça.
Na esperança de não perder a hora, dormiu mais dez minutos.
Na esperança de não perder o trem, virou na esquina errada, a fim de se perder pelas ruas escuras pela noite quando o sol ainda não tinha tido a coragem de iluminar.
E porque estava só, andou como se estivesse acompanhada, admirada pelas luzes das casas que se acendiam melancólicas enquanto pessoas sonolentas se arrastavam pelos cômodos vazios.
Já era dia, mas ainda estava noite. 
E na esperança de acordar o sol, levantou a sua voz em canção de rimas pequenas de lua e amor.
E de repente, todas as canções não eram assim tão tristes.
E na esperança de não deixar passar o medo em vão, correu sem parar, tentando não escorregar na vastidão de emoções que se amontoavam sobre a neve no asfalto.
E de repente o medo não era assim tão ruim.
O trem chegou e ela perdeu.
O ônibus passou e ela ficou.
A porta fechou, a música acabou, a noite findou, e o sorriso desvaneceu num rosto pálido pelo frio.
E na esperança de não se conter de tanta confusão, acenou um adeus ensaiado.
E para se manter aquecida, desnudou seu corpo no frio cortante, debaixo de um céu cinza de inverno.
E de repente, toda a tristeza não era assim tão grande.
Na esperança de permanecer viva, abriu os olhos para a luz que, fina, cortava e cintilava no céu de chumbo. 
A luz acendeu, o dia amanheceu, a folha caiu e a lágrima secou.
E de repente, viver não era assim tão impossível.
O coração batia apesar do medo.
O pulso pulsava apesar do desespero.
Os pulmões se enchiam de ar apesar do vazio na alma.
O sangue circulava apesar da esperança perdida.
O corpo sentia, apesar da angústia.
A vida seguia, apesar da dor.
E na esperança de sobreviver a um dia de cada vez, pagou pelo pão e seguiu.

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