"É a maior lua" - disseram.
Ela nunca esteve tão grande desde sei lá quanto tempo atrás.
Não se falava em outra coisa, senão na lua gigante.
Era um grande evento, e tão simples, mas tão singular: uma lua gigante.
E hoje em dia nunca foi tão fácil alardear coisas, assuntos, fazer um "big deal of everything".
Eu já tinha tentado ver a lua gigante, mas não dava do quintal da minha casa, se é que se pode chamar isso de quintal.
Subi na laje, mas mesmo assim não deu pra ver.
Pensei: "tá tudo bem, amanhã é um outro dia, e quem sabe amanhã eu consiga", e deixei pra lá.
Amanhã chegou mais rápido que um estalar de dedos, mas como sempre, eu nem percebi, quando vi já era noite.
Foi então que alguém me mandou uma mensagem com uma foto, dizendo que nunca viu a lua tão linda.
Joguei o celular de lado, e sai correndo pra ver a lua.
Minha mãe achou aquilo estranho": "onde você vai?" - gritou ela.
"Ver a lua" - respondi. "Onde ela está?
Que pergunta mais bizarra! Eu jamais imaginei que algum dia na vida eu iria perguntar onde estava a lua.
Ao que minha mãe respondeu: "Olhe naquela direção que a verá".
Sai correndo, subindo escadas, escaneando o céu com meus olhos, e nada da lua.
Fui pra rua, subi o morro, rastreando onde meus olhos podiam alcançar, e nada da lua.
Nariz empinado, olhos ao alto, e nada da lua...
Caminhei desesperada, olhos lacrimejando, buscando encontrar a lua gigante!!!!
Quão difícil deveria ser enxergar algo "gigante", pelo amor de Deus!?
Mas nada da lua.
Eu podia ver o brilho dela, lá longe, mas não a podia ver.
"Roubaram a lua do meu céu", concluí chorando.
Voltei pra casa destruída, destroçada, fracassada como poucas vezes na vida me senti.
Minha mãe me esperava no portão: "Aonde você foi? Sua irmã foi atrás de você mas não te encontrou. Viu a lua?"
"Roubaram a lua do meu céu...." - respondi resignada.
Por que você está chorando? - ela insistiu.
"Porque do buraco onde me encontro, não consigo enxergar a lua".
E logo eu que sempre amei a noite.
Muitos se guiam pelas estrelas, mas não eu. Não... Eu não!
Eu sempre me guiei pela lua.
De modo que, quando me levaram o brilho das estrelas, eu fiquei triste, mas ainda tinha a lua.
Sempre que eu lembrava de que haviam me privado do dourado do sol, e até mesmo dos mais fininhos raios, eu ficava triste, mas o que me consolava era lembrar que à noite, eu tinha a lua.
Não pude ver a lua gigante. E isso não é nada irônico, é patético.
Eu sempre me achei tão humilde por me conformar com a luz da lua. A lua que nem luz própria tem, que sempre pega emprestado do sol.
Tem gente que não aceita menos do que a luz do sol. Mas eu não! Eu sempre me conformei com a lua.
Mas agora, nada.
Não tem sol entrando pela minha janela...
Não tem estrelas no meu céu, é tudo cinza...
E pra piorar tudo, não tem mais lua no meu céu.
Meu céu está vazio.
Isso não está certo...
Não... Não!
Não mesmo, isso não está certo!
Sol, lua estrelas são de graça! Deveriam ser!
Mas agora, me tiraram tudo!
Ao me roubarem a lua, me tiraram a última luz que me restava.
Encontro-me neste buraco em completa escuridão...
Algo precisa ser feito. Chega! Não dá pra viver assim!
E você só percebe que tem que mudar de vida,
de ares,
de lugares,
de nome e
de profissão,
quando percebe que o seu céu está vazio.
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