sábado, 8 de setembro de 2012

Praticando o desapego =]


Desapeguei-me.
Confesso que é um pouco assustador. Dá a impressão de que não me importo mais com as pequenas coisas, o que não é verdade. Mas até disso me desapeguei: das impressões. Não me importa mais a impressão que eu passo para as outras pessoas. Gostem ou não, compreendam ou não, entendam bem ou mal, não me importa. Estou assim. Não posso dizer que sou assim agora, mas que estou assim agora. Não sei quanto tempo isso vai durar, ou se é um estado permanente. Mas não importa.
Eu costumava guardar todos os recados - significativos - que recebia das pessoas que gosto no meu celular. Eu guardava até a memória agüentar. Uma vez ao ano eu fazia uma limpa nos enviados e nos recebidos. Pois é, eu guardava os recados enviados também. Eu gostava de saber o que escrevi para as pessoas que gosto.
Vez ou outra, quando estava entediada demais, ou me sentindo sozinha demais, eu relia, relia, relia os recados enviados. Quem dirá os recebidos! Eu poderia passar horas lendo e relendo os recados recebidos.
E isso se aplica também aos e-mails (recebidos e enviados), aos bilhetes, aos cartões de aniversário e de Natal, às mensagens de voz.
Eu poderia passar horas relendo um e-mail ou recado de celular, ou até mesmo as conversas no MSN. Aliás, já fiz isso.
Certa vez eu peguei 9 meses de conversas no MSN e as li... Passei o dia todo lendo aquilo, como se fosse um livro que contasse a minha história. Ou como se fosse uma boa companhia.
A pessoa nem falava mais comigo, mas ler aquilo a trazia para perto de mim... Quanta ilusão!
Hoje não faço mais isso.
Hoje apaguei todas as mensagens no meu celular.
Hoje eu apaguei contatos da minha lista do MSN.
Hoje eu joguei fora bilhetes de cinema.
Hoje eu limpei minha caixa de e-mails.
Estou limpando a minha vida.
Pode parecer bobagem, eu sei. E é mesmo.
Mas isso tem sido um símbolo do que eu realmente quero para minha vida.
Eu quero uma vida mais leve.
O passado pesa muito. Não dá para levá-lo muito longe no futuro. Por isso, preciso de espaço na minha bagagem, que é pouca. Não quero carregar peso.
A solidão faz coisas estranhas com a gente. A solidão nos faz tomar atitudes estranhas, esquizofrênicas eu diria.
E eu cansei de ser esquizofrênica.
Textos são passíveis de interpretação. Cada vez que eu lia aquelas mensagens, eu as interpretava de um jeito diferente. Poderia significar que alguém estava apaixonado por mim num primeiro momento, e depois de ler algumas vezes mais, não era nada.
Eu tenho esse defeito: sou míope. Tenho um coração e o entendimento míopes. Não consigo ver a realidade objetivamente. Por isso mesmo me desapeguei de tudo o que pode me fazer ver a vida distorcida.
Quero ver, quero enxergar as coisas, a mim mesma, à vida, as pessoas como realmente são.
Como não tenho remédio ou cura para miopia mental/emotiva, eu resolvi me desapegar de coisas que não tem muita importância.
Roupas que não uso, caixas de presentes, livros que nunca lerei, pessoas com quem nunca falei ou aquelas que nunca falam comigo... Tudo indo embora lentamente...
Estão boiando no vaso sanitário do meu coração, e estou prestes a dar a descarga.
Olho por um instante a mais, mais um momento, e então deleto.
O primeiro certamente foi o mais difícil. Mas depois de sentir a liberdade que trás o botão “excluir” e “tem certeza de que deseja excluir?”, você não quer mais parar até se livrar de tudo o que não te acrescenta nada nesta vida.
Não me sinto menos solitária, mas me sinto mais feliz.
Sinto que estou tomando posse da minha vida. Estou abrindo espaço para o que realmente importa. Ah! E como é maravilhoso!
Delete, exclua, jogue fora, dê a descarga.
Diga adeus.
É algo libertador.

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