segunda-feira, 25 de junho de 2018

aquilo que ninguém quer falar sobre DEPRESSÃO

Eu sofro de depressão.
15 anos se passaram desde que fui diagnosticada. 
Desde os meus 13 anos de idade apresento os sinais. Hoje eu sei, porque li muito a respeito do assunto, e fiz alguns anos de terapia.
Odeio fazer terapia. Passei, ao todo, por 5 terapeutas diferentes, amigos não inclusos neste número.
De todos, apenas uma terapeuta realmente eu gostei. Não estou dizendo com isso que os outros não me ajudaram em nada, apenas que eu só me identifiquei com a última. 
Tive de parar a terapia porque não tinha mais dinheiro pra continuar. 
De todas as vezes em que eu parei de fazer terapia, eu parei por causa de dinheiro.
Tomei remédio 2 anos. Parei por conta própria. 
NÃO FAÇA ISSO.
Mas eu fiz, e me arrependo só em parte.
Os remédios eram fortíssimos e tinham diversas reações adversas, a pior dela, palpitações.
Tão fortes que a médica me receitou rivotril para acalmar meu coração quando começasse a acelerar demais.
O remédio ajudou, mas não resolveu o problema. A terapia ajudou, mas não resolveu o problema.
Sinto que não há nada que resolva o problema.

Enfim, mas não é sobre terapia ou remédios que eu quero falar. E também não estou aqui para ser pessimista e dizer que depressão não tem cura e quem tem está fadado a ser infeliz para o resto da vida. 

NÃO!

Porque eu ainda sofro de depressão, mas não sou infeliz. 
Tenho momentos em que me sinto miserável.
Tenho crises de ansiedade, de pânico... mas quando passa, quando a realidade volta a clarear diante dos meus olhos, eu sou feliz.
As crises passam. Às vezes demora, às vezes passa depressa. Mas passa.
Então posso dizer que sou feliz. Que agora, me sinto bem na maior parte do tempo.
Mas nem sempre foi assim.
E também estou numa fase boa, então as crises são menos intensas, e machucam menos. Consigo colocar os pés no chão mais depressa.

Mas também não estou aqui para falar de crises, nem de como me sinto com relação à depressão. Nem de como eu lido com ela.

Eu quero falar de uma pessoa que eu muito amo, e que também sofre de depressão.
Ela sofre de depressão e de outros quadros psicológicos aos quais eu não me atrevo a falar porque pouco entendo.
Então, na minha opinião, a situação dela é ainda pior do que a minha.
Eu só tenho depressão.

Eu amo demais essa pessoa. E no decorrer dos últimos anos, tenho assistido a felicidade escorrer coração afora dessa pessoa.
Tenho assistido o sorriso lhe cair do rosto.
Tenho sido testemunha da amargura lhe invadir a alma, e ela se trancar, dia após dia, cada vez mais fundo, no profundo de si mesma.

Fui eu quem primeiro disse a ela que procurasse ajuda, pois existe tratamento, e o tratamento pode fazer a vida ser mais leve. 
Graças a Deus ela me ouviu, e depois de muitos anos, foi procurar ajuda.
Está agora em tratamento.
Mas ela está naquela fase de "limbo", onde não se ajustou ainda a medicação, onde ainda não começou a terapia, onde ainda a vida não faz o menor sentido.

E a vida dela não é fácil. Nunca foi, Mas agora parece que a vida caprichou nos desafios e dificuldades, e ela se encontra num momento bastante delicado de sua própria existência, toda a vida ainda meio que bagunçada, entrando nos eixos, mas ainda tudo incerto.
E é óbvio que tudo isso, coisas normais na vida de qualquer ser humano, para alguém com depressão é ainda mais pesado, mais difícil de lidar.

Nos últimos meses sinto que perdi essa pessoa.
Ela não morreu, mas também não está mais lá.
Cada vez que falo com ela, eu procuro arduamente encontrar nem que sejam resquícios de quem um dia ela foi, de quem ela é, mas está cada dia mais difícil.
Ela está se esvaindo, sumindo, pouco a pouco se desintegrando, e tudo isso diante dos meus olhos impotentes.
Bem, não diante dos meus olhos, porque não nos vemos já faz bastante tempo. Moro longe agora.
Mas nos falávamos com frequência, todos os dias, várias vezes ao dia.
Agora quando nos falamos a cada 15 dias, é motivo de comemoração de minha parte.

Ela não quer mais falar comigo.

E eu sei bem como é isso, porque quando você está no ápice dos piores momentos de uma crise (que pode durar desde minutos até mesmo meses ou anos) você não consegue enxergar que você está tão atolada na lama da depressão. Lama essa que te paralisa, cobre seus olhos para que não veja, mancha seu coração para que não sinta alegria, ou sequer algo de bom, e por aí vai.
Só quem já passou por isso sabe do que estou falando.
Me desculpe por não poder explicar melhor.
Nem quero explicar melhor, porque no fim, ninguém entende mesmo.

Nem eu mesma, que sofro com o mesmo problema, em proporção diferente, mas é o mesmo problema, nem eu mesma consigo entender.

Eu não consigo entender quando ela me ataca sem motivos, só porque eu estou tentando me aproximar.
Eu não consigo entender quando ela se recusa a partilhar comigo sua presença, quando eu estou apenas tentando matar a saudade que sinto.
Não entendo quando ela me agride em palavras, só porque eu estou querendo o melhor pra ela.
Não consigo entender porque ela definitivamente precisa de empurrar pra longe, usando as palavras como facas pontiagudas, e cravando elas bem fundo no meu coração, só porque eu estou tentando impedir que ela cai ainda mais fundo do que já está.
Eu não entendo porque ela me bate, me soca, me machuca, e faz de tudo pra me machucar, sabendo que está me machucando, e não para! Só porque eu tento puxar ela pra  cima, fora dessa lama.

Os presentes que eu entrego, ela pisa.
As palavras bonitas que eu trago, como flores recém colhidas do meu jardim precioso, ela ignora de um jeito que as deixa murchar, antes mesmo de eu as entregar pra ela.
Trago essas flores para colorir as sombras que invadem os pensamentos dela.
Mas as sombras são tão escuras que engolem tudo de bom que eu possa oferecer.

E eu, cansada de tanto lutar pra tentar estar pelo menos perto (ainda que distante), machucada por todos os chutes e pontapés que venho recebendo durante meses a fio, com o rosto ainda sangrando, e as mãos ainda curvadas em dor pelas flores que morreram, eu quero apenas ir embora.
Quero apenas correr pra bem longe e nunca mais voltar.

Se é distância que ela quer, então eu me sinto tentada em partir e finalmente lhe dar aquilo que ela vem me pedindo, e que eu luto para não acreditar que ela merece.

Sou apenas um ser humano. Mas eu deveria saber melhor. Eu deveria saber melhor, porque eu conheço o que ela está passando não apenas de lhe ouvir, não apenas de entregar meus ouvidos para suas ofensas como um saco de pancadas, não... Eu conheço de dentro. Eu sei o que ela está passando, e eu conheço a situação vista de dentro, porque eu também já estive um dia assim.

E se eu, que sei como é tão horrível sofrer com a depressão, e não conseguir fazer nada para parar esse sofrimento.. eu que sei exatamente como é isso, não estou conseguindo encontrar mais forças para continuar lutando por essa pessoa a quem tanto amo, quem dirá uma pessoa que não faz a mínima ideia do que é estar com depressão? 
Quem dirá uma pessoa, como tantas e tantas todos os dias, que pensa que o deprimido não sai da situação em que se encontra por falta de força de vontade!
Quem dirá um imbecil desalmado, que acha que o deprimido é apenas um melo-dramático preguiçoso querendo chamar atenção...

Hoje acordei determinada a desistir.
Fiz as minhas malas, recolhi todos os vestígios que eu pude de minha existência na vida dela, juntei meus argumentos, minhas palavras de encorajamento, coloquei tudo em grandes malas e sacos, e sacolas, e estava pronta, já na estação do "IR EMBORA", esperando o próximo trem chegar para eu ir.
E meu coração sangrando, todo machucado, ainda cheio dos espinhos com que ela me feriu, meu corpo ainda cheio dos hematomas dos socos das palavras ríspidas, meus olhos ainda roxos e inchados pela rejeição com que ela me atingiu, e meus braços arranhados com as feridas abertas, por todos os abraços que foram recebidos com lâminas. 
Era assim que eu me encontrava, com minhas malas feitas prontas para partir.
Vi meu reflexo no espelho, e eu me encontrava em situação deplorável também.
O trem chegou, e como que por um instinto eu olhei mais uma vez pra ela.
Ela também estava em uma situação deplorável.
Toda suja, e machucada, e cega, e angustiada, e sobrecarregada debaixo de tantos sentimentos imundos que lhe roubavam a visão.
Ela nem me olhou, não conseguia nem elevar a face, levantar os olhos para ver que eu estava a partir.
Nessa hora um espinho se fincou ainda mais fundo no meu peito, e me fez chorar.
Porque, por mais que eu estava em estado deplorável, eu ainda estava em pé.
Eu conseguia caminhar. Eu conseguia ver.
Ela já não conseguia, há muito tempo.
E o horrível pensamento de a perder pra sempre me deixou desesperada, e eu esqueci de tudo...

Porque pra mim o que mais importa não é o que ela sente por mim nesse exato momento.
O que mais importa é como eu me sinto por ela.
E eu a amo.
E quando a gente ama, o amor é um bálsamo poderoso.
O amor veio fazendo curativos e limpando as minhas feridas. Me dando anestésico para a dor. Me dando alimento para a alma abatida, e força nos meus pés cansados.
E foi por isso, pelo amor que tenho por ela, que eu fiquei e ainda fico.

Uma hora essa crise dela vai passar, porque pela experiência eu sei que as crises não duram para sempre. E quando esse momento chegar, eu quero estar lá para que ela me veja, e reconheça que eu sempre estive lá.

Que Deus me ajude, e sempre me encha de amor para que eu possa esperar por este dia, e estar de pé.


domingo, 24 de junho de 2018

fading

me tornei aquilo que eu mais temia:
A lembrança da lembrança da lembrança...
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